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domingo, 14 de novembro de 2010

Lei e Graça

Infelizmente, membros de Igrejas Evangélicas e até estudantes de Teologia de certas faculdades crêem firmemente que a lei se opõe à graça.

Anote estas declarações:

“Pondo o assunto em seu devido lugar, somente quando a lei é feita um meio de salvação, entra ela em choque com os princípios da graça. A lei destina-se a revelar o pecado; a graça destina-se a salvar do pecado. Nenhum conflito pode existir entre ambas.”1
Os dispensacionalistas, contrariando o ensino bíblico, têm defendido duas épocas distintas: dispensação da lei – Velho Testamento e dispensação da graça – Novo Testa mento.
A finalidade deste estudo é harmonizar a lei com a graça, colocando cada uma em seu devido lugar.

Comentários Gerais

I. Que é Lei?

Na Bíblia, a palavra é empregada com múltiplos significados.
a) Designa o Pentateuco. Luc. 24:44. b) A lei dada a Moisés no Monte Sinai. Rom. 5:13; Gál. 3:17,19. c) É empregada no sentido de expressão da vontade de Deus e do Seu caráter justo e santo. Rom. 3:20; 7:12; I Tim. 1:8; Tiago 1:25.
Em outras palavras: é a expressão do caráter de Deus em termos humanos.

Como igreja cremos nesta tríplice finalidade da lei.

1º) Ela nos mostra o pecado ou convence-nos de que somos pecadores. “Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” Rom. 3: 20. 2º) Guia o pecador a Cristo. Efés. 4:24-25. 3º) Será a norma do juízo. Tiago 2:12.
As leis são as normas estabelecidas por Deus para que por elas pautemos a nossa vida.

II. O que é Graça?

a) Favor imerecido. Dádiva a que se não faz jus. b) É uma qualidade intrínseca de Deus, que brota do Seu amor por nós, levando-o a fazer tudo em nosso favor a fim de que possamos ser salvos. c) É a fonte de nossa salvação. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Efés. 2:8. d) “Graça é a mão de Deus que se estende em direção a Terra. Fé é a mão do homem que se ergue para pegar a mão de Deus.” – Dicionário Adventista. e) É a aceitação do homem por parte de Deus. “A graça divina, eis o grande elemento do poder salvador; sem ela, todo o esforço humano é inútil.” – CPPE, pág. 487. f) Elemento divino que nos dá poder para obedecer á lei de Deus. “Sem a graça de Cristo é impossível dar um passo em obediência à lei de Deus.” – Selected Messages, vol. 1, pág. 372. g) “A graça é uma qualidade que dá ao homem a força de executar as exigências de Deus.” Lutero.

Os Adventistas e a Lei

Como igreja já fomos acusados de crermos na justificação pela obediência à lei.
É uma realidade inegável, que antes de 1888 nossos pregadores encareciam muito a lei de Deus, mas após a Conferência Geral de Mineápolis graças à atuação segura de Ellen G. White e os estudos dos pastores Waggoner e Jones passamos a encarecer a Justificação pela Fé.
A acusação de crermos que somos salvos pela guarda dos mandamentos é infundada. Ninguém poderá provar através de nossos sermões e de nossa literatura esta idéia antibíblica.
A rica bibliografia adventista confirma que jamais atribuímos à lei uma função salvadora. Nossa posição quanto aos Dez Mandamentos é esta: São grandes preceitos morais, imutáveis, obrigatórios a todos os homens, em todas as épocas. Êxo. 20:1-17.
Aceitamos a declaração do eminente teólogo batista, Strong, em sua Teologia Sistemática, pág. 538:
“A lei de Deus é, por conseguinte, simplesmente uma expressão da natureza divina, em forma de reivindicações morais.”
No parágrafo oitavo, das Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia se encontra:
“O homem é justificado, não pela obediência da lei, mas pela graça que há em Cristo Jesus. Aceitando a Cristo, é ele reconciliado com Deus, justificando por seu sangue quanto aos pecados cometidos no passado e salvos do poder do pecado pela permanência de Sua vida nele.”
A seguinte declaração de Santo Agostinho é oportuna: “Pela lei tememos a Deus, pela graça confiamos nele.”

O Legalismo e a Guarda dos Mandamentos

Nos dias de Paulo havia três erros concernentes à lei e à graça, erros esses que têm perdurado até os nossos dias. Esses erros são:
1º) O Legalismo É o ensino que somos salvos pelas obras, observando cerimônias e preceitos da lei. O livro de Romanos refuta esse erro.
2º) O AntinomianismoEnsina que se somos salvos pela graça, não faz diferença alguma como vivemos e nos conduzimos.
A epístola de Tiago é uma resposta a este erro doutrinário.
3º) O galacianismoÉ o ensino que somos salvos pela graça, mas, após isto, somos guardados pela lei. Em outras palavras: Somos salvos pela fé e obras. Paulo guiado pelo Espírito Santo escreveu a carta aos Gálatas combatendo esta heresia. Ver Novo Testamento Interpretado, de Russel Norman Champlin, 4º vol. pág. 435.
Deploravelmente, há muita gente entre nós não sabendo distinguir o legalismo da guarda dos mandamentos. Legalismo não é guardar a lei, obedecer a Deus, mas guardar a letra da lei para obter méritos diante de Deus. Legalismo é o mau uso da lei.
A obediência é necessária, mas depender de nossa obediência para a salvação é totalmente contrária ao espírito do evangelho.
Os judeus afirmavam que Jesus não interpretou bem a lei, quando sabemos que Ele é o verdadeiro intérprete da lei.
Nossa atitude para com a lei deve ser a que Cristo teve, como está relatada na profecia messiânica de Isaías 42:21“Foi do agrado do Senhor, por amor de sua própria justiça, engrandecer a lei e fazê-la gloriosa.”
Hal Lindsey na obra Satan is Alive and Well on Planet Earth, pág. 163, escreveu:
“Se procurarmos ser justificados como crentes pela obediência a qualquer lei, negamos o poder de Cristo em nossa vida. Isto é o que Paulo afirma em Gál. 5:1-5.
“Obediência é o resultado de um relacionamento espiritual com Cristo e não o meio para alcançar esse relacionamento.”
Ellen G. White escreveu:
“Há dois perigos contra os quais os filhos de Deus – particularmente aqueles s que só há pouco aceitaram Sua graça – devem, especialmente, evitar. O primeiro. . . é o de considerar as próprias obras, confiando em qualquer coisa que se possa fazer, a fim de se colocar em harmonia com a vontade de Deus. Aquele que procura se tornar santo por suas próprias obras, guardando a lei, tenta o impossível. Tudo que o homem possa fazer sem Cristo está poluído de egoísmo e pecado. . . .
“O erro oposto e não menos perigoso é o de que a crença em Cristo isenta o homem de guardar a lei de Deus, considerando que somente pela fé é que nos tornamos participantes da graça de Cristo e que as obras nada têm que ver com nossa redenção.” Caminho a Cristo, págs. 59-60.
O Bispo Hopkins ensinou:
“Pregar a justificação pela lei, como um concerto, é legalismo e torna sem efeito a morte e os méritos de Jesus Cristo. Mas pregar a obediência à lei como regra, é evangélico.”

Paulo e a Lei

Há algumas expressões paulinas que são mal compreendidas porque não são explicadas de acordo com uma exegese correta.
Paulo escrevendo a Timóteo (I Tim. 1:8) expôs a sua concepção sobre a lei. “Sabemos, porém, que a lei é boa se alguém dela se utiliza de modo legitimo.” A tradução da The New English Bible transmite bem a idéia do original: “A lei é uma excelente coisa, contanto que a consideremos como lei”.

I. “Morrer para a Lei”

Em Rom. 7:4-6 ele declara que morremos para a lei e fomos dela libertados. Em Gálatas 2:19 afirma: “Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. ..”
O contexto e outros princípios exegéticos nos informam que as expressões: “morrer para a lei” e “ser libertados da lei” significam o seguinte: O laço que nos ligava à lei como caminho para ser aceito por Deus tem que ser quebrado.
Notem a declaração do comentarista Stamm: “A morte para, a lei significa deixar de obedecer á lei como meio que nos assegura a boa vontade divina.”
Morrer para a lei, jamais quis significar que não temos mais a obrigação de guardar a lei, mas sim morrer para a lei como meio de justificação.
“Quem procura alcançar o céu por suas próprias obras, guardando a lei, tenta uma impossibilidade.”Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 364.
Os fariseus ensinavam que a “Lei” encerra os elementos da vida dos judeus; todos quantos lhe obedecessem viveriam, e aqueles que lhe fossem desobedientes morreriam. (Ver Deut. 30:11-20)./
Com a expressão “morrer para a lei” Paulo fazia referências ao rompimento da crença que a guarda da lei era o caminho para nossa aceitação perante Deus.

II. “Não estais debaixo da lei”

Muitos evangélicos citam a expressão de Paulo: “não estamos debaixo da lei” (Rom. 6: 14-15; Gál. 5:18), querendo significar que a lei moral foi abolida.

Os adventistas ensinam que “debaixo da lei” significa “debaixo da condenação da lei”. Não estar debaixo da lei não quer dizer estar desobrigado de cumpri-la, mas sim não ser culpado de sua transgressão. A única maneira de não estarmos debaixo da lei é cumpri-la. Se transgredimos uma lei, incorremos em multa, prisão, ou qualquer punição enfim.
A lei nos informa o que devemos fazer, a graça nos lembra que devemos aceitar a Cristo, porque Ele nos capacita a cumprir as exigências da lei. A graça divina não erradica a lei dando ao homem licença para pecar. Isto é amplamente expresso em Romanos 6-8.
O que Paulo fez foi condenar terminantemente crenças errôneas dos judeus como as seguintes: a lei para ele era equivalente ao plano divino para a salvação do mundo; o homem era aceito por Deus guardando os seus mandamentos.

III. “Sem lei se manifestou a justiça de Deus” Rom. 3:21.

Com esta declaração Paulo tinha em mente a justiça independente das obras da lei, dos méritos humanos.

IV. “O Sábado findou na cruz”

O Sr. Walter Martin, no livro The Truth About Seventh Day Adventism afirma que o sábado como lei se cumpriu, não sendo mais obrigatório aos cristãos. Na página 161 ele afirma: “Em mais de um lugar, o Novo Testamento comenta desfavoravelmente sobre a prática de qualquer tipo de observância legalista de dias”, acrescentando mais adiante que “o apóstolo Paulo ensinou que o sábado, assim como a lei se cumpriu na cruz e não era obrigatório aos cristãos.” Em defesa de suas afirmações cita textos do Novo Testamento, sendo o primeiro deles Col. 2:13-17. Poucos versos do próprio Paulo são suficientes para provar que ele jamais foi contra a lei. Rom. 3:31“Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei.” Rom. 7:12 “Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo e justo e bom.”
A. R. Vidler, em seu livro Natural Law, pág. 25, escreveu: “A lei é de utilidade aos crentes como um padrão de obediência a Deus, na vida de fé, por meio da qual os frutos do Espírito possam surgir.”

Aparente Contradição de Paulo

“O objetivo da Epístola aos Romanos, comparado com o da Epistola aos Gálatas, explica uma aparente contradição entre as duas cartas: Numa, é permitida a observância dos dias (Rom. 14:5); noutra, é proibida (Gál. 4:10-11). A permissão é a favor dos judeus convertidos, que tinham escrúpulos de consciência com respeito a pôr de parte certos preceitos da Lei em que tinham sido educados. A proibição é para os gentios convertidos, aos quais os judaizantes ensinavam que só podiam ser salvos praticando o ritual judaico. Essa observância, com o fim de salvação, devia ser, portanto, condenada.”2 Se aqueles que crêem que Paulo se opõe à lei moral em Gálatas (4:9-11) atentassem para o contexto desta carta jamais chegariam a esta conclusão. O contexto de Gálatas é claro em informar-nos que Paulo a escreveu porque membros das igrejas da Galácia, influenciados por mestres judaizantes pensavam que poderiam ser salvos cumprindo as obras e minúcias do judaísmo (Gál. 2:16; 3:1-6). Paulo insiste que ninguém pode ser salvo por suas próprias ações, desde que a salvação é dom gratuito de Deus. The Interpreter’s Bible, vol. X, págs. 429-443, na Introdução ao Livro de Gálatas, “salienta que Paulo queria livrar os crentes do conceito errado de que eles poderiam ser salvos observando a lei mosaica; esclarecendo-os também de que não deveriam guardar a lei dos Dez Mandamentos visando conquistar méritos diante de Deus para sua salvação.” Paulo dá ênfase a esta verdade fundamental: já lhes mostrei que ensinamentos da lei, visando dirigir a atenção dos homens para a vinda de Cristo, e tendo este cumprido Sua missão, não deveriam mais ser observados na dispensação cristã. Antes de concluir são úteis ainda mais alguns pensamentos esclarecedores: “Sob o Evangelho ficamos libertos do jugo da lei cerimonial e da maldição da lei moral. . . A lei moral não foi senão para a localização da ferida, e a lei cerimonial serviu como sombra precursora do remédio: Cristo, porém, é o fim de ambas.”3 “A graça não importa em liberdade para pecar, mas numa mudança de senhores, e uma nova obediência e serviço. A graça não anula a santa lei de Deus, mas unicamente a falsa relação do homem para com ela.”4 A graça não elimina a obediência, mas antes torna-a imperiosa (Rom. 1:5 e 6:17)5 Paulo prevê esta objeção à doutrina da salvação pela graça por meio de nossa fé em Cristo. Se a salvação é “à parte da lei”, então a lei é inútil. A resposta de Paulo é esta: A função da lei não é livrar do pecado, mas revelar o pecado.

Definindo a relação entre a lei e a graça disse Agostinho:

“A Lei é dada para que a Graça possa ser exigida; a Graça é concedida para que a Lei possa ser cumprida.” Strong diz com convicção: “A graça, contudo, não deve ser entendida como se ab-rogasse a lei, mas sim como reafirmando-a e estabelecendo-a (Rom. 3:21).” Para a nossa salvação devemos aceitar a graça de Deus, e pelo nosso viver devemos exaltar a Sua Santa Lei.

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